terça-feira, 28 de junho de 2011

O vapor não é sujo o bastante!

A editora Draco divulgou ontem, segunda-feira, a capa da antologia “Dieselpunk – Arquivos Confidenciais de uma Bela Época”. O livro será lançado em agosto, na Fantasticon, evento dedicado à literatura fantástica que acontecerá entre os dias 12 e 14, em São Paulo. Confiram abaixo:

Capa de #Dieselpunk, org. @gersonlodi, arte por @ericksama


Além disso, o capista e editor Erick Santos deu uma entrevista ao Romeu Martins, do Cidade Phantastica, sobre a obra, o processo de criação da capa e o próximo projeto punk da editora. Confira aqui. Um post no blog oficial da Draco também detalha as influências por trás da ilustração e da concepção da capa como um todo.

Novamente, a organização ficou por conta do Gerson Lodi-Ribeiro, assim como ocorreu na “Vaporpuk”, lançada no ano passado (resenha aqui). O dieselpunk é um gênero de difícil definição, uma vez que não existe um romance que o represente fielmente, mas pode ser entendido, de maneira um tanto genérica, como uma evolução do steampunk, com o diesel substituindo o vapor.

Além do organizador Gerson Lodi, Antonio Luiz Costa, Tibor Moricz, Cirilo S. Lemos, Carlos Orsi Martinho, Hugo Vera, Jorge Candeias, Otávio Aragão e Sidemar Castro formam o time de autores selecionados para este segundo volume de coletâneas punk da Draco. Enviei uma noveleta para avaliação, mas não rolou. Acontece. De todo modo, a boa notícia é que, para fechar a uma trilogia, a editora pretende lançar a Solarpunk. O anúncio oficial acontecerá na Fantasticon, mas está confirmada mais uma coletânea punk – e, novamente, de um subgênero praticamente inexplorado. Vamos acompanhar o que a produção luso-brasileira mostrará dessa vez.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Resenha: NECRÓPOLIS - A FRONTEIRA DAS ALMAS - Douglas MCT

Um dos melhores momentos de “Necrópolis – A Fronteira das Almas” (Draco, 308 páginas) é o capítulo em que um grupo de ladrões se envolve numa perigosa missão, tendo que invadir uma fortaleza para roubar artefatos mágicos ali escondidos. A estrutura do capítulo lembra a dos jogos de RPG: tem-se um agrupamento de indivíduos com capacidades e especialidades particulares em busca de objetos sagrados que renderão poderes específicos aos seus portadores, aumentando suas atuais aptidões e habilidades.

É extremamente frustrante, portanto, não enxergar nessa empolgante, divertida, bem conduzida e envolvente sequência uma função mais clara e significativa na trama. Desse modo, ela se estabelece como uma boa amostra das qualidades e dos defeitos deste romance de estreia do paulista Douglas MCT.

Após um sombrio prólogo, que trás um clérigo realizando um exorcismo (tentando, ao menos), pulamos no tempo e somos apresentados ao jovem Verne Vipero e a seu irmão caçula Victor, que, após um misterioso incidente, que também envolve outras crianças da pequena cidade no interior da Itália onde vivem, vem a falecer. Mas o cético Verne encontra na enigmática e desconhecida figura de Elói uma esperança: ele lhe propõe viajar até Necrópolis, dimensão de onde poderá impedir a queda do irmão no Abismo e trazê-lo de volta a vida. Verne parte, então, numa jornada a um mundo fantástico e inóspito.

De maneira geral, o romance funciona. Trata-se de uma história universal, em que uma pessoa comum precisa sair de seu lugar e enfrentar as mais inimagináveis adversidades de modo a cumprir determinada tarefa, e, durante o processo, vai aprendendo mais sobre si mesma e descobrindo sua própria capacidade de domar o medo e seguir em frente. O herói se envolverá em batalhas que nem sempre serão as suas, descobrirá nos personagens que cruzarem seu caminho inesperados aliados e inimigos cuja motivação nem sempre entenderá de pronto, levantando-se a cada investida do destino, sem nunca desistir. Assim, esse primeiro volume da saga “Necrópolis” (o autor planeja lançar mais cinco continuações) acessa uma memória comum que remete, por exemplo, a obras conhecidíssimas como “O Senhor dos Anéis” (dadas, é claro, as diferenças entre ambas). Trata-se de estrutura algo formulaica, mas não se pode negar que seja extremamente funcional e que ajude a criar boas histórias.

A questão é que uma boa história não é o suficiente, nem mesmo uma de forte apelo com o público. “Necrópolis” tem problemas. O que mais me saltou aos olhos é o que só posso chamar de indecisão. Durante grande parte da leitura, não fica claro no que a história procurava se concentrar: se na busca de Verne pela alma do irmão, na apresentação do universo fantástico no qual esta busca se dá ou nas tramas paralelas que envolvem a grande quantidade de coadjuvantes. A impressão que fica é que o autor não conseguiu aproveitar o fator urgência. O que tinha tudo para ser uma história de corrida contra o tempo, dada a proximidade da queda de Victor no Abismo – reiterada frequentemente –, acaba indo numa direção diferente. Sim, a Necrópolis apresentada por Douglas é um mundo muito bem montado, povoado por criaturas interessantes e elementos mágicos bem integrados àquela realidade, e o autor trabalha bem a imersão de Verne nessa estranha dimensão que ele ceticamente acreditava existir apenas em lendas. Da mesma forma, os personagens que vão se juntando ao protagonista são quase todos divertidos e bem desenvolvidos. Mas não há, a meu ver, um equilíbrio entre todos esses ingredientes e aquele que deveria ser o eixo principal da história: a jornada de Verne para salvar o irmão. Durante a leitura, várias vezes me assaltou o pensamento: “Caramba, por que esse pessoal não se apressa?” São tantos acontecimentos paralelos que desviam o foco do principal. A missão dos ladrões, que citei no início, é apenas um deles – e embora estabeleça ligações com a trama principal, estende-se mais que o necessário e apresenta uma infinidade de informações que não fazem qualquer diferença.

Deve-se ressaltar também a forma como a personagem Karolina é apresentada e desenvolvida. Um dos pontos fortes do romance é justamente a dinâmica entre os personagens, de modo que, nesse eixo, o único ponto fraco fatalmente salta aos olhos. A mercenária que se junta a Verne em sua aventura surge como o mais estereotipado de todos os coadjuvantes: a típica figura da mulher forte, perigosa e sexy que chuta todas as bundas possíveis e arranca suspiros de todos. As referências as seus encantos são tão frequentes que a partir de certo ponto soam como mera repetição, impedindo-a de assumir uma personalidade mais pautada em suas ações, o que seria preferível. Felizmente, um tratamento mais caprichado é dado aos demais coadjuvantes.

Apesar destas falhas, “Necrópolis” nunca se torna uma experiência monótona ou enfadonha, encontrando em seu universo narrativo a força necessária para que a história mantenha um bom ritmo e não saia dos trilhos. Percebe-se que o autor refletiu e investiu fortemente na ambientação, conferindo personalidade e vida a sua Necrópolis, coroando-a com elementos pra lá de criativos – como o Planador Escarlate, espécie de meio de transporte vivo – e criaturas estranhas e curiosas – como o corujeiro Ícaro –, além de se apropriar com competência de outras que já são lugar comum nas histórias de fantasia, como vampiros, fadas e até zumbis. Embora certas passagens estejam ali com o único objetivo de introduzir-nos a tais criaturas – como a visita de Verne e Elói à igreja de Paradizo –, no geral, o autor atua com sobriedade nesse quesito, conseguindo apresenta-las de maneira mais fluida e orgânica.

Douglas mostra competência também nas sequências de ação, especialmente as que se desenrolam no caminho para o Alcácer de Dantalion, saindo-se igualmente bem na batalha final de Verne (seria imperdoável que o herói não protagonizasse uma luta épica, certo?). O desfecho, no entanto, tem seus altos e baixos: apesar da boa revelação final e da bem trabalhada conexão entre a trama principal e o misterioso prólogo, muitas lacunas são deixadas em branco, e várias das soluções apresentadas pelo autor não convencem, soando um tanto obscuras e forçadas. Da mesma forma, uma reviravolta relacionada a um personagem específico surge de maneira tão inesperada quanto artificial, e causa certa estranheza.

Mas, no conjunto da obra, “Necrópolis – A Fronteira das Almas” convence; trata-se de uma história divertida e ágil, apesar de seus problemas. Deve-se salientar também que não se trata apenas de um livro de estreia, mas também do primeiro volume de uma série, de modo que mudanças e novas abordagens podem ser esperadas. De minha parte, só posso afirmar que gostaria muito de fazer uma nova visita a Necrópolis, de modo que aguardo as continuações.

Boas leituras.

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